FT-CI

Bolívia

A crise se mantém aberta

13/09/2007

Governo e oposição buscam saídas políticas para salvar a Constituinte da agonia

A Assembléia Constituinte foi suspensa no dia 7 de setembro durante um mês, por iniciativa do governo como forma de ganhar tempo. A ofensiva da direita sucrense, com apoio dos “cívicos” de Santa Cruz e da “meia lua” [1] colocou a Assembléia em “estado de coma”, ameaçando aprofundar a crise política. Agora, seguindo a lógica de “postergar para pactuar”, abre-se um novo prazo para mais uma tentativa de negociação.

A direita quer impor ao MAS (Movimiento al Socialismo, partido do presidente Evo Morales) manobras para impedir que este tenha maioria para definir qualquer decisão na Constituinte, como forma de diluir até o final as propostas debilmente reformistas do MAS, e assegurar o máximo possível de garantias e concessões. A direita utiliza a reivindicação de que a capital do país passe a estar nas mãos da elite de Chuquisaca (ou seja, que o poder executivo e o legislativo que hoje residem em La Paz retornem a essa cidade), para melhorar suas posições quanto ao tema da independência dos estados e na nova repartição do poder estatal, disputado entre o Oriente e o Ocidente [2].

Por sua vez, o MAS realizou enormes concessões, aceitando autonomias dos estados e esse antidemocrático princípio pactista (como expressa a lei de Convocatória ã Constituinte e a lei que prolonga as suas atividades até 14 de dezembro), a aprovação por dois terços da nova constituição e referendum nos pontos em que não haja acordo. Há, porém, certa resistência a uma capitulação direta frente ã chantagem da direita, tratando de não se prender formalmente a essas exigências desmedidas, ou seja, manter certa margem de liberdade de ação política.

Eis que a forma com que serão tomadas as decisões fundamentais é crucial, pois ainda que estejam colocados importantes elementos para um reacionário “acordão nacional” em temas decisivos, como a política em relação ao capital estrangeiro (como demonstrou o aval congressual unânime aos 44 contratos petroleiros do governo), a aceitação das autonomias dos estados, a preservação da propriedade latifundiária, e outros responsáveis pela reorganização do Estado e do projeto de novo regime político; há ainda diferenças importantes. Entre elas, o próprio tema da capital do país, se haverá um adiantamento das eleições com reeleição indefinida (como defende o MAS) e outros aspectos que a futura constituição deve afixar.

Não há, porém, um “pacto social e político”, como outrora propôs o vice-presidente García Linera capaz de consolidar esses acordos, permitindo “absorver” as diferenças e abrir o caminho a uma estabilização do país e da reconstrução de um regime aceito pelo conjunto da classe dominante. Isto leva a crises recorrentes como a atual, que colocou a Constituinte “em estado de coma”. Caso avance a negociação, a Assembléia será chamada para aprovar os “consensos” previamente resolvidos por cima. Caso não haja acordo, é possível que a deixem morrer, ou que o MAS se empenhe em reuni-la, tratando de definir a nova Constituição com suas próprias forças, opções que aprofundarão a crise política que se mantém abertas.

A política do Pacto de Unidade: Como enfrentar a direita?

As organizações congregadas no Pacto de Unidade (a Confederação camponesa CSUTCB, as 6 Federações de Colonizadores do Trópico cochabambinos, a Federação de Mulheres Camponesas e outras) que apóiam o governo de Evo Morales, convocaram a “cúpula social e cultural” na cidade de Sucre, com a consigna de exigir a continuidade da Assembléia. Prometia reunir 100.000 camponeses e indígenas, mas o próprio MAS “puxou o freio” para que não houvesse pedras no caminho da negociação e finalmente, no estádio Patria, reuniram cerca de 15.000 pessoas. Entretanto, as juntas vicinais e a COR de El Alto marcharam em apoio ao governo e ã Constituinte sob a consigna de que “a sede não se muda” (contra a transferência dos poderes a Sucre).

Estas demonstrações estão calcadas em uma política de cautelosa pressão funcional aos objetivos do MAS em negociar com a direita política e os comitês cívicos.
Traçam, desse modo, um caminho completamente impotente, de pressão sobre a Assembléia, subordinado completamente ã estratégia do MAS de conciliação com os representantes dos empresários, dos latifundiários e das transnacionais, uma “linha pactista”, pela qual os “descontentamentos” do MAS são disciplinados cada vez que Evo os chama a ordem, e que só serve para que a direita erga a cabeça e se moralize cada vez mais.

Por isso, os dirigentes sequer mencionam o aumento do custo de vida, o salário e outras reivindicações postergadas. Também não se valem de medidas concretas de luta contra a direita empresarial e latifundiária.

Caso queiram tornar efetiva uma luta frente a frente contra a reação, o único caminho é o da mobilização geral dos trabalhadores, dos camponeses, dos povos originários, sem se subordinar politicamente ao governo, levantando um programa que agregue as demandas imediatas mais sentidas, como o salário e o emprego, a solução das tarefas nacionais e democráticas pendentes (e “esquecidas” na Assembléia), como uma reforma agrária radical, nacionalizar os recursos naturais e as empresas capitalizadas, território e respeito ao direito de autodeterminação dos povos originários e a ruptura com o imperialismo, trazendo as forças operárias e populares para luta e impulsionando a autodefesa das massas contra os ataques e as provocações dos grupos de choque como a “Juventude Crucenhista”. Este programa é o único que pode quebrar o poder da reação, e, ao mesmo tempo, reabrir o caminho de Outubro, de uma solução operária e camponesa ã crise nacional.

  • TAGS
  • NOTAS
    ADICIONALES
  • [1Conformada pelas provincias de Santa Cruz, Beni,
    Pando e Tarija

    [2Cabe recordar que logo da guerra civil de 1899, Sucre conservou o título de “capital” e residencia do poder judicial, mas a verdadera sede do governo foi La Paz, concentrando o poder executivo e legislativo. Agora, com a rivalidade entre as burguesías de Santa Cruz e La Paz pela reorganizaçao do poder estatal, as disminuidas élites de Sucre vem a oportunidade de recuperar poder com o apoio da “meia lua”.

Notas relacionadas

No hay comentarios a esta nota

Periodicos

  • PTS (Argentina)

  • Actualidad Nacional

    MTS (México)

  • EDITORIAL

    LTS (Venezuela)

  • DOSSIER : Leur démocratie et la nôtre

    CCR NPA (Francia)

  • ContraCorriente Nro42 Suplemento Especial

    Clase contra Clase (Estado Español)

  • Movimento Operário

    MRT (Brasil)

  • LOR-CI (Bolivia) Bolivia Liga Obrera Revolucionaria - Cuarta Internacional Palabra Obrera Abril-Mayo Año 2014 

Ante la entrega de nuestros sindicatos al gobierno

1° de Mayo

Reagrupar y defender la independencia política de los trabajadores Abril-Mayo de 2014 Por derecha y por izquierda

La proimperialista Ley Minera del MAS en la picota

    LOR-CI (Bolivia)

  • PTR (Chile) chile Partido de Trabajadores Revolucionarios Clase contra Clase 

En las recientes elecciones presidenciales, Bachelet alcanzó el 47% de los votos, y Matthei el 25%: deberán pasar a segunda vuelta. La participación electoral fue de solo el 50%. La votación de Bachelet, representa apenas el 22% del total de votantes. 

¿Pero se podrá avanzar en las reformas (cosméticas) anunciadas en su programa? Y en caso de poder hacerlo, ¿serán tales como se esperan en “la calle”? Editorial El Gobierno, el Parlamento y la calle

    PTR (Chile)

  • RIO (Alemania) RIO (Alemania) Revolutionäre Internationalistische Organisation Klasse gegen Klasse 

Nieder mit der EU des Kapitals!

Die Europäische Union präsentiert sich als Vereinigung Europas. Doch diese imperialistische Allianz hilft dem deutschen Kapital, andere Teile Europas und der Welt zu unterwerfen. MarxistInnen kämpfen für die Vereinigten Sozialistischen Staaten von Europa! 

Widerstand im Spanischen Staat 

Am 15. Mai 2011 begannen Jugendliche im Spanischen Staat, öffentliche Plätze zu besetzen. Drei Jahre später, am 22. März 2014, demonstrierten Hunderttausende in Madrid. Was hat sich in diesen drei Jahren verändert? Editorial Nieder mit der EU des Kapitals!

    RIO (Alemania)

  • Liga de la Revolución Socialista (LRS - Costa Rica) Costa Rica LRS En Clave Revolucionaria Noviembre Año 2013 N° 25 

Los cuatro años de gobierno de Laura Chinchilla han estado marcados por la retórica “nacionalista” en relación a Nicaragua: en la primera parte de su mandato prácticamente todo su “plan de gobierno” se centró en la “defensa” de la llamada Isla Calero, para posteriormente, en la etapa final de su administración, centrar su discurso en la “defensa” del conjunto de la provincia de Guanacaste que reclama el gobierno de Daniel Ortega como propia. Solo los abundantes escándalos de corrupción, relacionados con la Autopista San José-Caldera, los casos de ministros que no pagaban impuestos, así como el robo a mansalva durante los trabajos de construcción de la Trocha Fronteriza 1856 le pusieron límite a la retórica del equipo de gobierno, que claramente apostó a rivalizar con el vecino país del norte para encubrir sus negocios al amparo del Estado. martes, 19 de noviembre de 2013 Chovinismo y militarismo en Costa Rica bajo el paraguas del conflicto fronterizo con Nicaragua

    Liga de la Revolución Socialista (LRS - Costa Rica)

  • Grupo de la FT-CI (Uruguay) Uruguay Grupo de la FT-CI Estrategia Revolucionaria 

El año que termina estuvo signado por la mayor conflictividad laboral en más de 15 años. Si bien finalmente la mayoría de los grupos en la negociación salarial parecen llegar a un acuerdo (aún falta cerrar metalúrgicos y otros menos importantes), los mismos son un buen final para el gobierno, ya que, gracias a sus maniobras (y las de la burocracia sindical) pudieron encausar la discusión dentro de los marcos del tope salarial estipulado por el Poder Ejecutivo, utilizando la movilización controlada en los marcos salariales como factor de presión ante las patronales más duras que pujaban por el “0%” de aumento. Entre la lucha de clases, la represión, y las discusiones de los de arriba Construyamos una alternativa revolucionaria para los trabajadores y la juventud

    Grupo de la FT-CI (Uruguay)